11/07/2011

Dificil Vida Fácil


- Peguei um copo de whisky que estava ao lado daquele homem de terno deslocado e distraído nos meus olhos, o que geralmente era algo muito raro, já que meu decote era maior que qualquer um naquele dia. E então depois de tanto me olhar, ao envés de perguntar-me o preço do prazer perguntou-me sobre mim. Então lhe disse - 150,00 por hora. Pode usar como quiser, querido. - Pegou-me pelo braço e levou-me até seu carro, quando comecei a tirar meu casaco, ele me deteve. Tirou então 150,00 reais do bolso e me deu. A única coisa que ouvi depois disso foi - Conte-me sobre você. E então comecei. Comecei a reviver assustadoramente um mundo já esquecido. Sou Dani, e prefiro que pense que tenho 20 anos, na verdade até eu me confundo ás vezes quanto tempo já vivi. Parece uma eternidade. Nasci numa cidadezinha pequena de Minas Gerais chamada Consolação. Minha família é toda de lá. Ah, minha mãe é linda, meiga e a pessoa mais bondosa que conheço. Vive com menos de meio salário minimo e era tão feliz que ás vezes considerava a hipótese de viver lá com ela toda essa felicidade. Engano. Burrice. Só depois eu entendi que o que ela fazia é curtir as migalhas deixadas pelo pai na nossa pequena casinha e curtir a falsa felicidade com meu padrasto. O nome dele era José, do meu padrasto. Ele se aproximou de mim e me dava balas todos os dias. Um dia quando estava indo trabalhar da vendinha que me pagava com arroz e um pouco de feijão. Estava muito frio naquele dia. Voltei pra pegar meu casaco e vi minha irmanzinha, tão pura, tão perfeita sendo atacada por aquele maldito monstro. A unica coisa que vi foi minhas mãos o atacando com um pedaço de pau. O matei, violentamente. Minha irmã morreu no mesmo dia pelas mãos do desgraçado. A cidade nem quis me escutar, em menos de 5 horas todos já sabiam, todos já me julgavam e praticamente me expulsaram de lá. Eu não pretendia aceitar aquilo, queria apenas viver em paz com minha mãe, mas ela me rejeitou como os outros. Preferiu acreditar que fiz aquilo por ciumes dele e quando me disse: não acredito em você. Aquilo foi o suficiente. No dia seguinte havia desapacido pra sempre.
Peguei uma carona com um caminhoneiro que me deixou na casa da Madame Jaquelinne. Ela tinha aparência de ter uns 30 anos, mas usava roupas me meninas de 20, sempre colorida e brilhante me ensinou a ganhar a vida de um jeito mais fácil. Não tente imaginar quantos anos eu tinha. Meu primeiro programa foi um mês depois, com um garoto de 22 anos com um belo carro. Fiquei "com ele" aproximadamente 1 mês e imagine só. Me iludi. Imaginei amor, carinho e compreensão. Bobagem! Quando  o abracei na nossa ultima noite e adormeci no seu colo, me acordou violentamente e me disse coisas que não me atrevo a lembrar. Assim comecei a tratar meus clientes como eu deveria: como objetos. Uma noite e nada mais, sem sentimentos, sem aprofundamento. Apanhei de muitos e ganhava muito pouco. Assim cheguei a ser quem sou hoje. Simplesmente assim. - Quando parei, quase vi uma lágrima naqueles olhos escuros. Não me sensibilizei, aprendi com a vida. Ele olhou-me intensamente durante muito tempo, olhei no relógio de já haviam passado 50 mnts. Assumo que desejava que durasse mais, mas não durou. - 10 Minutos. O que vamos fazer? - Peguei um cigarro tentando demonstrar desdém. - E se eu te pagasse o resto da vida? - Surpresa e confusa apaguei o cigarro, rodei a sala e perguntei por fim. - O que você quer de mim? - Olhei-o com raiva. - Lembra-se de algum Cícero? - Pensei e me veio duas lembranças embaraçadas. - Fiz programa a pouco tempo com um. Sei disso porque ele tinha um cartão de identificação que gostava de exibir para mostrar sua importância. Lembro também de .. - Pensei assustada. - Lembra de ...? - Falei com lágrimas marejando os olhos - Lembro de Cícero, meu irmão mais velho. O único que me viu antes de ir e me abraçou. O unico que acreditou em mim. - As lágrimas não suportaram mais. - Sou eu, Carol. Sou eu! Sou Cícero! - Nos abraçamos com tanta força e tanto amor que não parecia estar em mim. Ele me levou pra conhecer sua família e me arrumou um emprego muito bom no restaurante que trabalha. A partir daquele dia ele não me deixou sair de lá. Ainda bem que não deixou. Ainda bem.
Edição Profissão: Garota de Programa

8 comentários:

Anônimo disse...

Gostei!!!
OMG, OMG!!!!
Não há palavras para dizer o que estou sentindo aqui ó.
Mas tenho uma coisa a dizer: "pena que esta história talvez só sejam escritas por blogs, se é que me entende".

Unknown disse...

Que texto é esse? AMEI!
Você escreve muito bem, pude te sentir na personagem.

Beijo!
Dá uma passada no meu blog
http://www.garotasdizem.com/

Fernando Alves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando Alves disse...

Puts, adorei o texto, a história e como você mostra a personagem e seus pós e contras. Adorei mesmo .. parabéns, você escreve mt bem.

Compartilhando Sentidos disse...

Tá aí! Gostei daqui e do texto, tanto que resolvi ficar (seguir-te).
Passa lá no meu canto e se gostares, fique por lá também.

Bjocas e eutimia

http://compartilhandosentidos.blogspot.com/

Gabriele Santos disse...

Nuussaaaa
amei o textooo...
demais, demais.
achei que era uma coisa no final foi outra.
surpreendente.
parabéns.
\o/

Julie Duarte disse...

Gente, que texto LINDO! Você fala com tanto sentimento, tanta convicção! Muito bom.
http://www.prontaparacrescer.com/

Ana Paula Ribeiro disse...

Bruna, quanta criatividade! Confesso que as lágrimas embaçaram minha visão.
Acredito que todas as garotas se prostituem, possuem uma trágica história que as levou a viverem de tal modo, e este garota, de sua história, teve um bom final, porque um familiar dela a acolheu e tirou-a disto, mas e as tantas outras que estão pelas esquinas? Fato que intristece a todos nós.
Estou torcendo por você na edição, com um texto incrível desse, impossível perder! Beijos.

http://ribeiroap.blogspot.com/

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Comentários